quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Convesinhas Noturnas 2

-Fê, acorda.
-Hum... O que foi Marina? Algum barulho estranho?
-Sim,sim. Dos meus pensamentos.
-Hã? Você tem certeza que já acordou?
-José Fernando, são 2 e 57 da manhã, não fale comigo como se eu fosse uma criança. Se te acordei é porque é sério.
-Ok,ok, já estou sentando Marina. Agora diga-me, o que foi?
-Acho que eu não te quero mais, Fê. Como marido,eu digo. Acho que não consigo superar nossas diferenças.
-Pai do céu... eu vou dormir,viu? Você também devia dormir e esquecer essas besteiras.
-Fê, é sério.
-Olhe Marina,já vamos fazer 60 anos juntos e eu te amo mais a cada minuto que passa. Se você acha que já não me ama eu posso conviver com isso: amarei por nós dois. Se você acha que não é mais feliz ao meu lado, eu deixo você ir atrás da sua felicidade e voltar pra mim de novo quando perceber que ninguém no mundo vai te amar como eu. Agora, pelo amor de Deus, deixe essas crises existencias pro namoro de nossos netos, ou prum outro horário, de preferência quando eu não estiver dormindo. Vamos voltar a dormir, está bem?
-Oh Fê... Me desculpe... é que às vezes eu sou tão bocó. Obrigada por sempre cuidar de mim. Durma bem, meu bem.
-Você também vida minha. E por favor não esqueça mais de tomar o remédio das 21h,ok?
-Fê...
-Oi.
-Eu te amo.
-Eu sei Ma, eu sei...

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Raining

E pegou-se pensando no "se".
E sentiu-se um homem covarde.
Deveria ter ido atrás dela naquela platarfoma de trem. Aliás nem deveria tê-la deixado ir até aquela platarfoma.
E lembrou-se da música.
E sentiu-se um homem triste.
O que teria acontecido se ele tivesse coragem e simplesmente não deixasse as coisas irem tão longe? Se não deixasse as mágoas se aprofundarem daquela maneira.
E olhou-se por dentro.
E sentiu-se patético.
Aquelas palavras dela de muitos anos atrás ressoaram em sua mente e ele imaginou que ela não era do tipo que se permitiria ficar remoendo o que seria do que não aconteceu.
E encarou-se no espelho.
E decidiu-se.
Ia por fim esquecer.
A última gota da chuva caiu. Caiu na pontinha do sapato, retirando a poeira e deixando uma marquinha redonda como a de uma última lágrima numa folha de papel.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Conversinhas noturnas 1

- Amas-me?
- Oras Daniel. Por que pergunta se já sabes a resposta?
- Creio que não me amas, pelo menos assim me parece.
- Mas já não lho disse tantas vezes? Carece dizê-lo novamente? Pois então, para que fiques satisfeito, sim, amo-te. É suficiente?
- Quanto me amas?
- Mais essa... Amo-te deste tamanhão assim. Basta-te?
- Não, quem ama "deste tamanhão assim" sou eu, que amo a ti. Quanto a você, tenho agora certeza, não me ama e aqui está por pura conveniência. Mas deixemos isto de lado e durmamos. Boa noite Tereza.
- Durma bem, Daniel.
...
- Ainda assim te amo, Tereza. Te amo muito, sabias?
- Ah Daniel, vai dormir!

domingo, 14 de novembro de 2010

"Te amo minha rosa escarlate, cujo perfume encantador mesmo de longe enlouquece"

Eis que sou mesmo uma rosa
Já sem cor, me desfazendo
Pois tão distante de ti
Eu estou enlouquecendo

Sem terra,água e luz
Como viverá uma flor?
Como, então, serei feliz
Vivendo sem teu amor?

Mal posso contar as horas
Pro momento de lhe ver
Vem, meu lindo jardineiro,
Eu me entrego a você.

Faz de mim o que quiser-
Me regue ou me despetale-
Desde que estejas comigo,
Qualquer toque seu me vale.

Claro que sendo eu rosa
Tenho sim os meus espinhos.
Retire-os todos de mim
E me dê o seu carinho.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

17/05/2010

E mesmo quando tudo se encontra bem,
Quando a Terra está na rotação correta,
Quando todas as peças do quebra-cabeças da vida estão se encaixando perfeitamente e já se pode vislumbrar o desenho quase formado,
O menino de calças listradas olha para o céu e sente o coração apertar.

Ele fita aquele imenso azul acima de sua cabeça e sua mente pensa em tantas coisas ao mesmo tempo que acaba não pensando em coisa alguma.

E o menino de calças listradas que antes sabia tudo que precisava saber para viver já não tem mais certeza de nada em sua vida. Na verdade neste momento o menino de calças listradas já nem tem consciência de que vive. Ele não sabe de seus sentimentos, não sabe o que quer, o que não quer, se ama, se odeia, não sabe se fica, se vai ou para onde vai. O menino de calças listradas não sabe nem mesmo onde está.

Na condição da ausência de si, a única coisa que o menino de calças listradas sente é aquela dor em seu coração, uma angústia inexplicável, que surge em meio a uma realidade perfeita. Ele não sabe mais o que é um coração, mas o seu incomoda, e mesmo sem boca, sem qualquer palavra expressa, grita, apela, pede ajuda. Ajuda pra quê? Ele também não sabe.

O dia prossegue perfeito.
O coração do menino de calças listradas palpita.
A multidão passa e ele segue em frente.
Não há outro caminho: não há escolhas disponíveis para quem não sabe escolher.
Agora ele é apenas um menino de calças listradas.

Ah! Que bela imensidão azul do céu!